domingo, 15 de setembro de 2013

Terrorismo e a propaganda política no filme "Iron Sky"



Imagine uma co-produção finlandesa, alemã e australiana que mistura “Star Wars”, bases lunares nazistas, filme “Independence Day”, a republicana Sarah Pallin na presidência dos EUA, Naziexploitation e um astronauta negro símbolo do marketing político dos republicanos que cai nas mãos dos nazistas lunares para ser embranquecido e tornar-se ariano por médicos da SS. Pois essa combinação delirante foi premiada no Festival de Cinema Fantástico de Bruxelas e no Festival de Berlim. É o filme “Iron Sky” (2012). Pode parecer um pastiche de inconsequente humor negro, mas por trás dessas camadas de puro absurdo estão interessantes insights sobre o terrorismo de Estado e propaganda política além de fazer refletir sobre a natureza das teorias conspiratórias contemporâneas.

“De onde somos? Da Terra. E quando nós saímos? 1945. E para onde nós fomos? Para o lado escuro da Lua!!! Salve Hitler!” Essa é uma das primeira sequências de “Iron Sky” onde acompanhamos  uma aula na escola infantil dentro de uma gigantesca base lunar com tecnologia e arquitetura retro e com astronautas trajando roupas que parecem ter saído de algum brechó temático da II Guerra Mundial. Mas é uma base lunar para onde os nazistas fugiram após a invasão Aliada na Alemanha no final da Guerra para se esconder no lado escuro da Lua. Lá planejam a grande invasão à Terra para construir dessa vez o IV Reich.

Tudo vai bem até serem incomodados com a chegada do primeiro astronauta americano naquela região, James Washington (Christopher Kirby), em uma missão que é um produto da propaganda política de uma ultraconservadora  Sarah Palin (“Um Negro na Lua. Sim! Ela Pode!” – é o slogan da campanha da presidenta à reeleição). Prisioneiro, os nazistas roubam seu celular e descobrem uma tecnologia muito mais avançada que pode colocar em ação a maior de todas as armas: a gigantesca nave “Crepúsculo dos Deuses” – uma espécie de “Estrela da Morte” como no filme “Star Wars”.

Mas a bateria do celular acaba. Eles precisam de outro celular. Decidem enviar um pequeno grupo à Terra, junto com o astronauta James que, submetido aos tratamentos dos médicos da SS, torna-se ariano (!) – em uma hilariante referência ao filme “Dr Fantástico” de Kubrick, constantemente seu braço direito quer fazer a saudação nazi, mas é contido pelo esquerdo...


Sarah Palin enfrenta os nazistas
vindos do lado oculto da Lua
Chegando à Terra e após muitas piadas e situações politicamente incorretas, o roteiro chega ao grande insight: o líder do grupo nazi acaba, acidentalmente, no centro da campanha da presidenta Sarah Palin (impagável, ela comanda todas as ações do governo correndo em uma esteira na Casa Branca). A marqueteira da campanha descobre que a ideologia totalitarista nazista é extremamente vendável e que, na verdade, suas ideias, slogans e bordões são usados de forma eufemista e disfarçada em todas as democracias do planeta.

O governo dos EUA acaba tolerando a invasão de discos voadores nazistas sobre Nova York para a presidenta ter o total apoio da opinião pública e dos membros da ONU para empreender uma batalha estelar até a Lua. Na verdade, secretamente os EUA estão atrás de uma fonte de energia existente na Lua que mantém a base nazi em funcionamento: o hellium 3. Se os EUA colocarem as mãos nessa fonte de energia, serão líderes econômicos mundiais.

O filme foi financiado através de um processo chamado crowdsourcing: o site do projeto recebia doações de fãs que totalizaram seis milhões de dólares em cinco anos. Mesmo com baixo orçamento, o filme foi bem realizado: propositalmente tenta parecer um filme B, mas figurino, fotografia e efeitos especiais surpreendentemente funcionam para um filme cuja produção foi limitada ao crowdsourcing. Mas resultou em uma versão final incompleta e com as cenas da invasão reduzidas na escala de tempo. Sem falar nos problemas de distribuição.

Terror e Propaganda

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